Uma erva – Uma história
Quando se fala de doenças autoimunes ficamos com a ideia que o nosso sistema imunitário por qualquer razão ‘avariou’ e, tal como um vírus de computador, começa a atacar o próprio corpo causando lesões irreparáveis.
Se temos o azar de contrair uma destas doenças, para evitar que se agravem os sintomas, a única coisa a fazer é seguir uma dieta adequada à situação: dependendo dos casos aconselham-nos a evitar gorduras, fritos, comidas picantes, lacticínios, carne…, enfim, temos de seguir à risca um role de sugestões que muitas vezes também incluem o uso de protetores solares, para evitar a exposição aos raios ultravioletas, e mesmo assim, por descargo de consciência, o melhor é mesmo andar sempre na sombra.
Já na Idade Média quando na Europa assolava a peste negra, não havia nada a fazer senão rezar e esperar ser um dos sobreviventes desta doença fatal que dizimou aldeias inteiras, não poupando ricos nem pobres. Assim que se ouvia um espirro, espalhava-se o pânico e, à pressa, encomendava-se aquela alma a Deus. A expressão “santinho!”, ainda hoje usada, tem origem nesta época conturbada da nossa história.
No entanto, há sempre quem não se conforme e tente dar a volta à situação, nem que seja por simples oportunismo. Nesta época, um grupo de quatro ladrões, levados pela cobiça aos bens alheios, não hesitou em saquear as casas dos moribundos sem serem importunados pelos proprietários das habitações que, quando confrontados com quatro figuras vestidas de preto e de cara tapada, pensavam tratar-se da morte que os vinha buscar. Porém, também eles, corriam o risco de serem infetados. Contra todas as probabilidades, o facto é que ganharam imunidade a esta praga e continuaram a roubar impunemente até um dia, numa emboscada, serem capturados. Determinados a descobrir o segredo dos ladrões contra a peste negra as autoridades locais não hesitaram em torturá-los até conseguirem desvendar o mistério. Os ladrões, usavam um óleo aromatizado com ervas que aplicavam nas narinas, e no tecido com que tapavam a boca, conseguindo assim evitar o contágio.
Hoje em dia encontram-se várias receitas de óleos dos ‘quatro ladrões’, como forma de prevenir e reduzir infeções. Estas receitas variam muito na sua composição, pois não se sabe ao certo qual a combinação de ervas usadas pelos ladrões. Uma delas, no entanto, é comum a todas as receitas – o ALECRIM. Não é por acaso que ainda hoje, na ilha da Madeira, esta erva é considerada uma planta protetora e com esse propósito encontra-se no jardim de muitos madeirenses.O alecrim produz os ácidos rosmarinico, ursólico e carnósico, componentes com grande poder bactericida, que atuam sobretudo como prevenção inibindo o crescimento e disseminação de bactérias. Como a peste bubónica é causada por uma bactéria, a Yersinia pestis, transmitida pelas pulgas dos ratos, é provável que o alecrim tenha tido uma ação importante na prevenção desta doença.
Tendo em consideração o sucesso destes quatro ladrões em superar uma maleita que dizimou uma boa parte da população europeia na época, porque não seguir-lhes o exemplo e enfrentarmos problemas de saúde, que hoje são ainda crónicos até que alguém consiga ultrapassar a barreira da imunodeficiência?
No mundo infinito das ervas aromáticas encontra-se com certeza a solução para muitos destes problemas tendo em consideração que as ervas aromáticas e especiarias são sobretudo auxiliares do nosso sistema imunitário, fortalecendo-o.
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