Um remédio para a loucura
Coriandrum sativum
Alice no País das Maravilhas é uma das histórias infantis mais carismáticas pela diversidade de personagens, cada qual com a sua paranoia. Um deles, o chapeleiro maluco (Mad Hatter), apresentava uma doença que no século XIX afetava estes profissionais. O mercúrio era nessa época usado no processo de produção de feltro, o tecido com que se forravam os chapéus em moda na época. A exposição excessiva a este metal pesado provocou intoxicações, com sintomas de alucinações, paranoia, excentricidade e que por vezes chegaram mesmo ao suicídio.
No nosso século ainda estamos expostos a este tipo de intoxicação, devido à incúria humana que contamina os oceanos de forma descontrolada. Os peixes que vivem na profundidade dos oceanos são os mais afetados. Na ilha da Madeira, este é um motivo de preocupação que afeta em especial um dos peixes que mais caracteriza a nossa gastronomia – o peixe espada-preto.
Se por um lado podemos evitar consumir peixes de profundidade para contrariar a contaminação, por outro, muitos de nós, os que ainda têm nos dentes o ‘chumbo’ com que se tratavam as cáries dentárias, não podemos esquivar-nos a este tipo de intoxicação. Se tentarmos remover a amálgama dos dentes, estamos sujeitos a maior intoxicação, porque o mercúrio ao ser libertado é rapidamente absorvido pelo corpo, alojando-se não só no cérebro mas também noutros órgãos.
Por esta razão o cientista japonês Yoshiaky Omara empenhou-se em estudar o efeito deste metal pesado, tendo em vista evitar os danos associados à remoção do ‘chumbo’. Numa das suas análises diárias notou que entre as pessoas que participavam neste estudo, duas, depois de retirarem a amálgama dos dentes, não apresentavam qualquer acumulação de mercúrio no corpo. Por coincidência essas pessoas haviam consumido uma sopa japonesa onde os coentros eram um dos ingredientes principais. Depois de vários estudos, chegou à conclusão que, de facto, os coentros têm a capacidade de atrair metais pesados, não só o mercúrio, mas também alumínio e chumbo que depois são facilmente eliminados pela urina.
Coentros também na loucura do Carnaval
Desde o sec. XVIII em Itália era hábito atirar ‘Coriandoli’ (frutos secos cobertos de açúcar) para os participantes no cortejo de carnaval. As sementes de coentros eram as preferidas por ser uma produção local muito abundante. Mais tarde, talvez por uma questão de higiene, ou mesmo económica, foram substituídos por pequenos papéis – Confetti.
Quando o problema não é LOUCURA mas STRESS, mastigam-se algumas sementes de coentros que, por terem em abundância linalool, o mesmo óleo da alfazema, têm propriedades antidepressivas e calmantes muito úteis para promover o sono e acalmar o espírito.
Coentros uma história de amor/ódio
Quem prova coentros pela primeira vez reage de duas formas: ou tem uma reação de aversão ao seu sabor e cheiro, ou pelo contrário, fica deslumbrado com o seu gosto, único no mundo da culinária. Para uns o aroma e sabor lembra o cheiro a insetos esmagados, aliás, o nome botânico – Coriandrum – deriva de koris (inseto), para outros o cheiro é mesmo irresistível e o sabor delicioso.
Porquê reações tão opostas? Este é ainda um enigma que, ao que parece, deve-se a razões genéticas, pois alguns dos componentes químicos da erva não são percetíveis de forma igual por todas as pessoas.
Contudo, há boas notícias para os que no primeiro impacto têm dificuldade em apreciar este sabor tão singular, mas querem usufruir dos seus benefícios medicinais. Podemos aprender a saborear com prazer esta erva tão peculiar, se insistirmos aos poucos no seu consumo. É o que se considera na gastronomia, um sabor que se aprende a gostar.
Todas as partes da planta são muito apreciadas na nossa gastronomia. Na língua portuguesa a palavra ‘coentros’ refere-se tanto às folhas como às sementes. Noutras línguas, como o inglês, faz-se a diferença entre a erva (partes verdes) e a especiaria (partes secas), enquanto a palavra ‘cilantro’ refere-se às folhas, ‘coriander’ é atribuida às sementes.
Como condimento, as folhas usam-se em sopas, molhos, pesto, arroz, marisco e numa infinidade de pratos quando queremos intensificar e realçar o sabor destes alimentos. Usam-se em geral no fim da preparação do prato para manter todo o aroma da erva, que se perde quando exposto ao calor intenso.
As sementes, por serem mais duras, levam mais tempo a libertar os aromas e podem usar-se esmagadas durante o processo de cozedura. Depois de secas, têm um sabor mais moderado e usam-se em guisados, pickles, marinadas e são parte importante do caril indiano. Para ajudar a libertar e intensificar o aroma desta especiaria tostam-se as sementes ligeiramente numa frigideira.
Seja pelas suas propriedades terapêuticas, ou por intensificarem o sabor da comida, os coentros são um condimento insubstituível quando queremos seguir uma dieta saudável.
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