Mentha spicata
Longe vão os tempos em que o leite fresco do dia era distribuído porta-a-porta pelo leiteiro. Para prevenir qualquer tipo de contaminação o leite era fervido antes do consumo, pois ainda não se fazia a sua pasteurização. Durante a fervura às vezes o leite azedava e, para não desperdiçar, lá em casa, o meu pai fazia requeijão com o leite ‘talhado’ usando para esse processo algumas folhas de hortelã-de-leite.
A ação anti-microbiana da hortelã-de-leite está hoje comprovada pela ciência e, atualmente, extratos desta erva são usados no fabrico de queijo, não só para evitar que este se estrague, prolongando o período de validade, mas também porque melhora as qualidades organolépticas do produto final, isto é, intensifica o seu sabor, textura e aroma.
Na culinária, a hortelã-de-leite tem também um lugar de destaque sobretudo na cozinha árabe. No reino de Marrocos a variedade de hortelã mais comum é a menta marroquina, Mentha spicata var. crispa ‘Moroccan’ com folhas pequenas e onduladas mas com aroma e sabor semelhante às outras variedades, porque a composição química é semelhante. É a erva de chá mais usada em Marrocos onde se acredita também que esta erva atrai riqueza. A hortelã marroquina é também um condimento importante na culinária deste país.
Nos países europeus a hortelã-de-leite, mais conhecida como Menta verde, usa-se na preparação de vários pratos para facilitar a digestão de alimentos ricos em gordura. O molho de menta ou a geleia de menta são os molhos mais indicados para acompanhar pratos de borrego, carne de porco, queijo ou simplesmente para barrar uma torrada.
As propriedades digestivas da hortelã-de-leite, Mentha spicata, devem-se ao seu componente químico mais importante, a carvona que reduz a absorção das gorduras na comida e protege contra a acumulação de gordura no fígado, provocada por dietas ricas em gordura.
Além de ser um condimento importante na gastronomia, a hortelã-de-leite é também uma planta medicinal muito importante. Antigamente, quando as ervas aromáticas eram os medicamentos mais acessíveis, a hortelã-de-leite, era usada para tratar diversos problemas de saúde. Quando uma criança tinha falta de apetite e se queixava de dores de barriga, suspeitava-se que estava infetada por parasitas intestinais. Um tratamento muito comum na época era dar à criança leite fervido com folhas de hortelã-de-leite em jejum. Este tratamento repetia-se todos os dias durante uma semana para garantir melhores resultados. Talvez devido às propriedades protetoras desta erva contra problemas digestivos, era também usual juntar uma folha de hortelã ao leite para preparar sopas de pão, uma refeição eu muito apreciava quando era criança.
A hortelã-de-leite é também uma erva de chá muito apreciada não só pelo seu sabor mas também para equilibrar a flora e regular o trânsito intestinais. Para conseguir um resultado mais eficaz junta-se um dente de alho à hortelã e toma-se duas vezes por dia.
Devido à grande variedade de plantas do género Mentha é importante saber identificar as espécies principais para escolher a Mentha apropriada ao fim pretendido, seja para fins terapêuticos ou uso na culinária. Para uma identificação correta é importante o contacto com as diferentes espécies para poder comparar os seus aromas.
À primeira vista a hortelã-de-leite e a hortelã pimenta podem ser parecidas mas, com uma observação mais pormenorizada, aprendemos a identificar o que as diferencia. A hortelã pimenta tem origem no cruzamento da hortelã-de-leite Mentha spicata com a espécie Mentha aquatica. A principal característica de hortelã pimenta é o seu aroma forte a mentol que na hortelã-de-leite é quase inexistente.
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