Nos meus tempos de criança era comum encontrar turistas por todos os cantos da Madeira maravilhados com as paisagens deslumbrantes, associadas ao clima ameno da ilha. Aos turistas, fosse qual fosse a nacionalidade, chamávamos de ‘ingleses’, talvez por serem os britânicos os visitantes mais assíduos da ilha.
Se recuarmos alguns séculos no tempo, a presença de estrangeiros sempre foi uma constante na Madeira. Nestes tempos mercadores italianos, flamengos, franceses e ingleses marcaram presença na ilha. Dedicavam-se ao comércio do açúcar, dos bordados e do vinho, e muito contribuíram para o crescimento da economia da região. É muito natural que tivessem sido também responsáveis pela introdução de algumas ervas aromáticas e condimentares na ilha. Talvez tenha sido durante este tempo que a manjerona italiana, Origanum x majoricum se tornou um condimento muito apreciado pelos madeirenses e é, ainda hoje, essencial na culinária típica madeirense.
Esta espécie combina o sabor dos orégãos com o da manjerona porque resulta do cruzamento de Origanum majorana com Origanum vulgare. O seu uso tornou-se tão vulgar nesta ilha que a ‘verdadeira’ manjerona, conhecida pelo seu aroma e sabor doce muito perfumado, não é muito usual na culinária madeirense.
A particularidade mais interessante nesta erva é a combinação do sabor doce e fresco da manjerona com o sabor mais pungente dos orégãos. Esta mistura, no entanto suscita muitas confusões quando se trata de diferenciar a planta dos orégãos da manjerona italiana. Mas, se observarmos com atenção, até é fácil distinguir as diferenças. Os orégãos crescem de forma rastejante, cobrindo o solo, enquanto a manjerona italiana é uma planta arbustiva. Na manjerona os botões florais destacam-se das flores minúsculas, ao contrário do que acontece com os orégãos que têm flores mais vistosas e botões florais pequenos.
Do ponto de vista terapêutico, é possível que esta planta combine algumas das propriedades dos orégãos com as da manjerona. Como condimento facilita a digestão de refeições ricas em gordura e reduz o aumento dos níveis de açúcar no sangue em comidas à base de hidratos de carbono. É talvez por isso que é tão apreciada na culinária madeirense como condimento para peixe, batatas, massas, guisados, molhos e marinadas, assim como para salpicar sobre saladas com tomate e queijo.
Como se tudo isto não bastasse, o chá das folhas e flores tem um efeito calmante, reduz ansiedade, promove o sono e tem uma ação anti-inflamatória para problemas respiratórios.
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