No tempo em que Portugal era o principal importador de especiarias da Índia, a pimenta preta (Piper nigrum) era uma das especiarias mais cobiçadas da época e valia o seu peso em ouro. Servia mesmo como moeda de troca e por isso era chamada de ouro negro. Porém, além desta especiaria, a Pimenta Longa (Pipper longum) destacava-se nesta
época pelas suas propriedades medicinais e, ainda hoje faz parte da medicina Ayurvédica.
Quando Cristóvão Colombo chegou à América, pensando que estava em terras indianas, encontrou uma planta com frutos que se pareciam, tanto no sabor como na forma, com os da Pimenta longa. Mas, afinal tratava-se de mais um erro deste descobridor, pois esta planta nem sequer faz parte da família das pimenteiras. Trata-se de uma planta da mesma família das batatas (solanaceae) do género Capsicum que hoje chamamos de Pimenta-da-terra ou Pimenta vermelha.
O piri-piri, tabasco, jindungo, e muitas outras variedades de pimenta-vermelha, apesar de não serem pimentas verdadeiras, por associação continuamos a chamá-las de pimentas. O mesmo acontece com as ervas aromáticas que chamamos de ervas-de-chá por associação com a bebida preparada com as folhas da Camellia sinensis, o chá preto.
O que estas duas pimentas têm em comum, apesar de pertencerem a famílias diferentes é que ambas, quando usadas na confecção dos alimentos ou por razões medicinais, ativam os mesmos receptores do corpo que nos dão a percepção de dor. Por isso sentimos a sensação de ardor quando a capsaicina (o composto principal da pimenta da terra) e a piperina (composto principal da pimenta preta) entram em contacto com as papilas gustativas ou quando aplicamos estes compostos na pele. À primeira vista parece que a pimenta preta tem uma acção mais fraca nestes receptores porque não nos sentimos tão incomodados, como acontece com a pimenta-da-terra. Na realidade a piperina, da pimenta preta, ativa os receptores da dor por um tempo mais curto enquanto a capsaicina, na pimenta-da-terra, tem uma acção mais duradoura, dependendo da variedade que usamos. Por isso algumas pimentas-da-terra são mais picantes do que outras.
Do ponto nutritivo estas duas plantas têm também uma acção de certa forma diferente mas ambas ajudam a digestão dos alimentos. Enquanto a pimenta preta melhora a absorção dos nutrientes da comida, prevenindo carências nutritivas, a pimenta-da-terra estimula o metabolismo facilitando a digestão dos alimentos e prevenindo a sensação de indisposição após a refeição.
Os condimentos que usamos na culinária, tais como a pimenta, preta ou vermelha, não servem apenas para tornar os alimentos mais apetitosos mas são também indispensáveis para uma digestão mais saudável.
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