Uma erva preciosa
Aqueles que como eu, encontram na jardinagem uma forma de se sentirem em sintonia com a natureza, muitas vezes deparam-se com alguns insucessos apesar de todo o empenho, porém aceitam-nos como um desafio. O prazer da jardinagem passa por usar a experiência do passado como ferramenta para o sucesso no futuro. É comum, entre os amantes desta atividade, partilharem experiências e estratégias para que as suas plantas tenham tudo o que necessitam e, nos recompensem, produzindo as flores que, em todo o seu explendor, alegram o nosso quintal.
Crescendo em harmonia com as plantas ornamentais do nosso jardim, as ervas aromáticas contribuem para o equilíbrio deste pequeno paraíso, libertando os seus aromas e atraindo insectos polinizadores, proporcionam um ambiente de bem-estar e tranquilidade a todos aqueles que valorizam a natureza. Uma destas ervas, a salsa por ser anual deve ser semeada todos os anos. Os jardineiros mais experientes sabem que esta erva é uma planta ‘temperamental’, isto é, nasce onde lhe apetece e germina quando quer. Daí desenvolvem-se estratégias para garantir o sucesso da sementeira.
Na ilha da Madeira alguns agricultores semeiam a salsa em segredo, sem ninguém ver, para “não dar azar”!
Ainda hoje há quem acredite que a demora na germinação das sementes explica-se pela superstição de que as sementes vão sete vezes ao inferno e voltam antes de nascerem as plantas. Na Grécia antiga a salsa era conhecida como erva do diabo e estava associada à morte, não sendo então usada na alimentação. Na mitologia grega acreditava-se que a salsa surgira do sangue derramado por Archemorus, o mensageiro da morte, depois de ser mordido por uma serpente. A salsa passou, por isso, a fazer parte do ritual funerário e era frequentemente plantada à volta dos túmulos.
Devido à simbologia da salsa, é importante ter cuidado ao oferecer esta planta a alguém pois pode ser mal interpretado como se lhe desejassemos a morte.
Se, por um lado, a salsa está ligada a rituais fúnebres, por outro lado, pode ajudar-nos a prolongar a vida.
Entre os muitos componentes químicos produzidos pela salsa destacam-se a mirecetina e a apigenina, os principais responsáveis pelas propriedades terapêuticas da planta. Como condimento, a salsa ajuda a proteger contra os efeitos negativos dos raios ultravioletas protegendo a pele e retardando o envelhecimento. Contribui para o equilíbrio da flora intestinal e as suas propriedades diuréticas ajudam a resolver problemas renais. Além disso, a salsa reduz a acumulação de colesterol porque promove a sua eliminação.
Se estes benefícios não são ainda suficientes para justificar o consumo da salsa na nossa alimentação, acrescenta-se o facto desta erva reduzir o hálito a alho ou cebola depois de consumirmos estes alimentos crus. Não é por acaso que nos pratos que envolvem sabores de intensidade muito forte a salsa é muitas vezes a erva preferida por suavizar os sabores mais acentuados.
Se, por acaso um dia alguém lhe oferecer um ramo de salsa, não leve a mal. A intensão não é concerteza negativa, antes pelo contrário, esquecendo as superstições, é uma forma de lhe desejar saúde.
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